Domingo que vem, dia 05 de junho, o Gibi Rasgado fará 01 ano de existência.
Por que criar um blog? E – mais absurdo ainda – por que mantê-lo durante um ano inteiro? E ainda mais sobre quadrinhos?
Pensei muito nisso durante os últimos doze meses.
E, claro, não cheguei a nenhuma conclusão.
O ser humano, quando não encontra razões para justificar seus próprios atos, possui a insistente mania de culpar os outros. Da irmã mais velha à crise na China, há sempre um culpado que não ele próprio.
Como todos os dias, hoje pela manhã, ao escovar os dentes, verifiquei minuciosamente se meus olhos não haviam ficado violetas e se não tinham me aparecido escamas no rosto ao invés de barba.
Como não virei a Liz Taylor e também continuo humano, resolvi culpar algumas pessoas por esse blog existir.
O primeiro da lista é meu pai. Lia tanto gibi que acabou registrando isso no código genético, sei lá. De alguma forma me passou esse negócio. Um dia terei filhos também e espero que tenham o mesmo fúnebre destino.
Minha mãe também é culpada. Onde já se viu comprar gibi pro filho, naquela pindaíba em que vivíamos? Culpada sem direito a defesa por ter alimentado o filho com sonhos ao invés de mortadela barata.
E nesse veredicto incluo minhas duas irmãs, por terem sido coniventes com o crime.
E a lista se estenderia por páginas inteiras se eu incluísse aí todos os moleques que emprestaram ou pegaram emprestado os milhares de gibis da minha adolescência.
Mas darei um salto de décadas e me concentrarei apenas naqueles de quem tenho provas claras da culpa.
Lucas Pimenta, com seu jeito de bom baiano, resolveu se aproximar dos seus colegas de classe virtual no curso de roteiro do SENAC.
“Por que você não faz um blog?” , “Dá uma olhada nesse blog, é bem bacana”, “Cê já entrou no meu blog?”, “É muito fácil fazer, você devia tentar…”.
Não acredito até agora que caí nessa conversa mole. Devia ter desconfiado mas, crédulo que sou, confiei nesse sórdido sujeito.
Marcello Fontana, Sergio Barreto e Carlos Portilho, ao que tudo indica, também foram vítimas das artimanhas desse vil senhor pois juntos inauguramos o Quadro a Quadro. Culpado 04 vezes. E a lista não pára de crescer: Eve, Dadal, Dan e Sou também estão no QaQ, por maior ou menor influência dele.
Um inocente e-mail (iniciativa minha, confesso), começou uma intensa troca de correspondências com o roteirista mineiro Wellington Srbek. O blog também só ficou esse tempo todo no ar graças a esse senhor. A lista dele também não é pequena, observem:
Culpado por escrever tão bem e produzir histórias fantásticas.
Culpado por ter um blog excelente e inspirar a linha deste.
Culpado por responder meus e-mails e comentários (todos, sem exceção).
Culpado também por comentar neste blog.
E agora, imperdoavelmente culpado por confiar a mim o roteiro de uma adaptação de William Shakespeare em quadrinhos (essa é indefensável).
E para não dizer que eu entrego apenas quem está em outro estado, em São Paulo poderemos encontrar na Praça Roosevelt o Gual, a Dani e o Floreal. Todos culpados por serem donos e colaboradores da HQMix Livraria.
Onde já se viu honestos comerciantes e trabalhadores serem amigos de seus clientes? E pior, pararem seus afazeres pra ficar batendo deliciosos papos sobre quadrinhos?
Por terem ensinado este humilde blogueiro muito sobre as tendências, a técnica e a história dos quadrinhos nacionais, os considero culpados também por este aniversário.
E por fim, a Cátia – esposa e companheira há 15 anos.
Culpada por ser uma pessoa tão interessante.
Culpada pelo conluio com o Lucas pra que eu fizesse esse blog.
Culpada por me dar coragem em escrever pro Srbek.
Culpada por ler todas as postagens.
Culpada por ficar uma década inteira acreditando que eu pudesse voltar a escrever quando eu mesmo já tinha esquecido que era capaz.
Culpada por ser o motivo de eu acordar todas as manhãs e culpada, principalmente, por me fazer crer que o mundo não valeria a pena sem ela.
Como disse, sempre há um culpado.
No caso deste blog existem vários.
E sou imensamente grato a cada um deles.
Muito obrigado por acreditarem no Gibi Rasgado.