domingo, 27 de novembro de 2011
Ah, o amor…
1989
No inverno de 1989 eu tinha 16 anos. Era uma reunião de pais e alunos na quadra da escola. Os professores haviam convocado a reunião para falarem sobre a formatura daquele ano. Estavam lá pais e crianças das turmas da 8ª série (que estudavam de manhã) e do 3º colegial (os do período noturno).
Foi quando vi uma loirinha baixinha e magrinha olhando para mim. Bonita, olhos claros, jeito ainda de menina. Passamos a reunião inteira nos olhando de longe. Ela foi embora e eu não tive coragem nem de lhe dar um aceno ou um mísero sorriso que fosse. Esqueci o assunto e continuei minha vidinha de estudante secundarista.
Duas semanas depois, ao entrar na sala, fui surpreendido com um grande recado na lousa: “Willians, você é lindo”.
Um recado escrito naquela manhã, na mesma sala onde quem escreveu saberia que eu entraria à noite para a aula.
Deixei um poema escrito numa folha de caderno embaixo da carteira onde eu sentava. Se a pessoa havia descoberto a sala, provavelmente saberia a carteira. Era um tiro no escuro.
Na noite seguinte pude ler na carteira, escrito com ponta de compasso na madeira: “Achei lindo”.
Começava ali uma história que duraria 7 anos.
Aquele foi o primeiro grande amor da minha vida.
Pode até parecer cafona ou ingênuo hoje, mas aquela foi uma época de grandes descobertas: beijos furtivos na esquina, caras feias dos pais da menina, brigas por ciúmes (confesso, nunca vali um tostão e ela tinha motivos de sobra), o medo e a ansiedade das primeiras ousadias, as alegrias e decepções próprias dos amores adolescentes.
Uma época onde tudo no mundo, cada pensamento, cada respiração, só valia a pena por causa dela.
Valente
O Vitor Cafaggi não sabe dessa história e em 1989 – com a cara de menino que tem – ainda devia estar ensaiando os primeiros passos.
Ele também não faz a menor idéia de que me acompanhou por 8 horas no ônibus que me trouxe pra São Paulo após aquela sensacional 7ª edição do FIQ. Não ele exatamente, mas sim o seu belíssimo Valente para Sempre.
Poucas vezes na vida vi um gibi traduzir tão bem o amor.
Com um traço leve, desenhando animais fofinhos, Vitor engana a todos. A primeira impressão que temos é a de estarmos diante de um gibi infantil, feito sob encomenda para meninas de 12 anos (os meninos não, eles nunca admitirão estarem lendo tirinhas com cachorrinhos e gatinhos).
Ledo engano.
Basta a primeira tira para você entender perfeitamente que o mundo habitado por Valente está muito mais próximo da realidade do que sugere o singelo design do simpático cãozinho.
A improbalidade de um animal falante, pegando ônibus, chegando atrasado às aulas, passando noites acordado, é rapidamente substituída pela inegável sensação de que você está lendo uma biografia.
Não a de Vitor mas sim a de você mesmo.
De uma maneira simplesmente genial, Vitor Cafaggi criou um gibi com a capacidade de relembrar tudo aquilo que você um dia sentiu. Cada medo, cada sorriso, cada suave beijo de despedida no portão (antes das dez da noite, sem falta, senão nunca mais a mãe dela deixaria vocês a sós), estão ali retratados.
Valente para Sempre não é simplesmente uma leitura agradável. Valente é um sentimento bom, uma saudade de um tempo que você sabe que nunca mais voltará. Ler Valente nos faz perceber que crescemos e que nunca mais teremos o sabor daquela paixão pura e verdadeira do primeiro amor.
E fazendo isso, Valente para Sempre nos faz perceber o quanto fomos felizes numa época em que tudo valia a pena se fosse por amor.
É claro que eu não fiquei com a menina.
Minha, digamos, “personalidade” condenou aquele amor ao fracasso, como já contei aqui.
Do que não posso reclamar, afinal foi minha falta de caráter que acabou fazendo com que eu conhecesse um amor muito mais intenso e fascinante, que tem me acompanhando nos últimos 15 anos.
Mas naquele ônibus, voltando de Belo Horizonte, reencontrei-me com aquele adolescente tímido, que tinha medo das mulheres e passava noites em claro planejando o que dizer.
E eu não poderia ter melhor companhia do que o gibi do Vitor naquela viagem.
Valente para Sempre tem o sabor das cartas de amor.
Tenhamos as escrito ou não.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Quem ama, já teve um amor desses...
ResponderExcluirE eu tive o meu também... Que me permitiu amar hoje ainda mais a mulher amada...
Valente é para todos aqueles que amaram e amam... para sempre!
Perfeito texto irmão.
Cara, se sua resenha me fez lembrar do meu primeiro amor (na quarta série, imagine), imagino quando eu ler a parada!
ResponderExcluirGrande resenha!
Lucas e Sergio, o primeiro amor a gente não esquece. O Vitor parece não ter esquecido o dele, pois riou um personagem fantastico.
ResponderExcluirGrande abraço meus velhos!