sábado, 20 de novembro de 2010

12 Razôes Para Amá-la…

capa_250Confesso que fui um canalha. Não me orgulho disso, é verdade, mas fui um canalha da pior espécie. Possuia uma vida dupla: até um determinado horário era um bom moço, namorava sério – na casa dos pais dela – tinha emprego fixo e era tido por todos como um menino “muito ajuizado, uma benção para sua mãe”; depois da meia noite eu virava abóbora – literalmente.

Deixava minha namorada na porta da casa dela, com aquelas juras de amor próprias da adolescência e, ao virar a esquina, entrava num velho passat que pertencia ao meu amigo Cassio, e não era um desses modernos modelos que desfilam nas ruas hoje em dia e sim aquele passat velhão, que corria feito o diabo.

E íamos pra vida de verdade.

Nessa época – como já relatei na resenha de Xampu – eu era um completo alucinado. E infiel – muito infiel.

19 de junho de 1996. Uma noite de sábado como outra qualquer. Chegamos – eu e o Cassio -  no bar do Aranha, lá na Vila Formosa, sentamos e foi então que eu vi uma guria magrela, esboçando uma dança ao som de Chico Cesar. O Alê – principal músico do bar na época – sempre mandou muito bem Chico Cesar.

A música, a luz vascilante e a silhueta daquela menina formavam uma paisagem perfeita.

Eu tinha que beijá-la. Pedi pro Aranha mandar um torpedo enrolado na boca de uma garrafa de cerveja, isso num guardanapo de papel – celulares ainda eram artigos de luxo na época. Não lembro o que escrevi, mas devia ser bonito, porque o torpedo voltou. Lembro de memória até hoje o que estava escrito:

“Estou me sentindo como o poeta, que viu o mar pela primeira vez”.

Era uma referência à música Todo o Azul do Mar, de Flavio Venturini e Ronaldo Bastos, imortalizada na voz do primeiro. O nome da menina era Cátia e começava ali a melhor viagem da minha vida.

Mas eu já volto nesse assunto. Vamos falar um pouco sobre gibis.

Há cerca de 03 semanas comprei 12 Razões Para Amá-la, de Jamie S. Rich e Joëlle Jones. Uma edição muito bem acabada da Devir Livraria, p&b, formatinho, lançada em 2007 e com respeitáveis 154 páginas.

Quadrinhos românticos? Eu?

Bem, vá lá. Era a melhor coisa que tinha na banca mesmo…

O gibi conta, em ordem aparentemente aleatória, 12 episódios da vida amorosa de Gwen e Evan. À primeira vista, parece que o gibi não tem nenhum roteiro, mas você vai perceber que ele existe assim que terminar a última página. E é um roteiro excepcional.

E não pense que é uma daquelas histórias fofinhas, cheias de corações esteriotipados, onde o conflito centra-se na busca do amor da donzela pelo príncipe encantado e nos perigos que enfrentarão até o “felizes para sempre”.

Não existem príncipes ou donzelas ali. Apenas um casal. Duas pessoas se curtindo e se odiando.

Uma vida a dois – qualquer vida a dois – pode dar um filme bom ou ruim. Sempre achei que o roteiro é escrito durante o relacionamento. Pega-se 04 ou 05 momentos cruciais na vida de qualquer casal e você terá um filme. Esses momentos podem ter ocorrido em um ano, dez ou cinquenta. Se você souber trabalhar tais momentos em duas horas de projeção você terá um sucesso de bilheteria.

Apenas 05 momentos. Todo o restante do tempo você se preparou para ou sofreu as consequências de um daqueles momentos. São essas situações que redefinem toda uma existência.

A história de duas pessoas pode ser vista como um conto de fadas ou um pesadelo. Só depende da qualidade do roteirista.

Pois bem, 12 Razões Para Amá-la tem um que é excepcional. Jamie S. Rich captou com inusitada beleza e realismo momentos de ternura, ódio e amor. Brigas banais, noites inesquecíveis, indiferença, tesão: o roteiro de 12 Razões é o roteiro de uma vida igual a vida de qualquer um de nós, só que em quadrinhos. A forma como os capítulos vão se encaixando na sua cabeça chega a ser assustadora, tal sua semelhança com os processos físicos da memória. Uma lembrança levando à outra, que pode ter acontecido antes ou depois daquele momento de que você se lembrou primeiro.

preview_006A arte de Joëlle é outro ponto que merece destaque. Seu estilo é muito próximo ao Mangá, mas apenas no traço.  Sua composição de cada quadro é limpa e elegante. Ela se utiliza daquela expressividade exagerada tão comum nos quadrinhos orientais apenas em momentos chave dentro de cada capítulo, aumentando ainda mais a sensação de deja vu  que o excelente roteiro já proporciona.

Naquela noite de 1996 minha vida virou de cabeça pra baixo. Terminei aquele namoro certinho de 07 anos e comecei a escrever um outro roteiro, com todos os ingredientes possíveis: ora doces, ora amargos, e muitas vezes com tudo isso misturado.

Aquela mulher está ao meu lado até hoje. Valeu a pena?

Cristo! Ela faz a vida valer a pena.

Ela é a principal razão pela qual escrevo, mesmo que seja sobre quadrinhos. Ela é tudo o que eu preciso para continuar respirando.

12 Razões Para Amar me fez recordar que aquele torpedo – um ato tão banal para mim na época – foi a maior decisão que tomei em minha vida e que a mudou de uma forma irremediável.

Fez eu me lembrar que tudo o que gosto e odeio em minha esposa é exatamente o motivo de estarmos juntos até hoje.

12 Razões Para Amar não tem um final feliz mas tem um final perfeito. É a vida de verdade que eu encontrei quando subi naquele passat naquela noite de 1996.

Catia.jpg

15 comentários:

  1. Foda... sem conseguir mais palavras para dizer algo.

    Sou seu fã.

    Que orgulho!

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  2. Você já conhece o gibi, um dia você vai conhecer a pessoa que me inspirou a escrever esta crônica.
    Do jeito que anda ela logo logo terá um fã clube.

    Grande abraço,

    Do seu irmão paulista.

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  3. Lillo;

    Costumo dizer que quando crescer quero escrever que nem você (e quero mesmo), mas essa resenha ficou ph0d@!! Agora sei que não vai dar pra escrever que nem você, mas parece que a viagem tentando chegar lá vai ser muito enriquecedora.

    Já era seu fã e parece que agora serei fã de sua musa inspiradora também! Que ela continue te inspirando, sempre, muito, plenamente. E muitas felicidades pra vocês dois!

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  4. Pri,

    Valeu mesmo! Virou freguez mesmo aqui no GR, né?
    Beijos

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  5. Serjão,

    É realmente fantástico quando encontramos alguém de verdade pra ficar junto.
    Essa é a resenha de um gibi, é uma declaração de amor mas também virou uma outra coisa, dependendo de quem lê.
    Obrigado sempre!

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  6. Gostei muito filho !

    Vc é incrivel !

    Te amo,

    Mamãe

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  7. Sou o filhinho da mamãe!!!
    Valeu Dona Rosa, no final das contas acho que fui muito bem criado.
    Te amo!

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  8. Desculpe a sinceridade, mas ler a SUA história foi muito mais interessante que ler a parte sobre o quadrinho! (Aliás, só podia ser mesmo, né?)
    Como sempre, amigo, você escreve e se inscreve no texto com uma honestidade e coragem que dão gosto.
    Parabéns a vocês!

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  9. Obrigado meu amigo!
    Essa nossa história é uma coisa meio louca mesmo. Parece filme. Quando cheguei com o gibi naquela tarde, falei para ela ler (ela nunca lê gibis). O fato de ela ter lido - e gostado - me convenceu que o gibi deveria ser resenhado. E o fã clube dela já tá maior que o meu!
    Ah... Essa foto da postagem foi tirada aí em BH (dá uma olhada no crachá que eu tenho no pescoço).

    Um grande abraço e obrigado!

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  10. Sou...
    Mas conto isso de uma maneira adorável!
    Beijos!

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  11. essa foto com sua amada no fit bh está lind !!!!! bj grá

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  12. Claro que está linda! Foi você quem tirou num restaurante lá de BH. Você deu de presente pra gente, tem essa e uma do Idibal!Beijos!

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