terça-feira, 11 de outubro de 2011

Não queria? Agora aguenta… (ou como eu acabei virando um roteirista - parte final)

imagesSe algum dia você ouvir um ator dizendo “Shakespeare? Nunca fiz porque não gosto…” , não acredite!

Isso é uma mentira deslavada e o sujeito só disse isso porque 1) não se sente preparado e disfarça sua insegurança usando esse argumento, 2) nunca leu Shakespeare ou 3) não é um ator.

Tudo – absolutamente tudo – que possua dramaturgia sofre a influência desse cara. O teatro depois dele, o cinema, os seriados, as telenovelas, os gibis (sim, os gibis), ninguém escapou da poderosa herança dramática da obra desse inglês.

Nunca ouviu falar de Shakespeare? Engano seu.

Nos amores impossíveis das comédias românticas, nos heróis e em seus nobres atos, na sordidez e na mesquinharia dos avarentos, em  vilões inesquecíveis como Hannibal Lecter ou Odete Roitman e em mais um sem número de personagens e histórias que você ouviu, leu ou assistiu, ouvem-se ecos de figuras shakespereanas como Romeu e Julieta, Otelo, Ricardo III ou Hamlet.

O motivo é simples: o bardo inglês captou em sua dramaturgia as mais sutis nuances da personalidade humana. Suas histórias refletem a história da humanidade, não apenas a anterior à época em que viveu (fim do século XVI e início do XVII), mas também de toda a história futura.

Shakespeare foi um dos poucos na história da humanidade que entendeu (ou ao menos soube retratar) o ser humano em toda sua plenitude.

E entendendo o ser humano, criou histórias que nunca envelhecerão e continuarão a ser adaptadas daqui a 500 anos, com o mesmo vigor.

Então imaginem o meu mais puro pavor ao ler aquelas linhas:

“Os álbuns que gostaríamos de encomendar a você são adaptações de obras de William Shakespeare(…)”

É muita responsabilidade.

Eu poderia ter dito não.

Não seria difícil, quer ver?

“Wellington, olha, agradeço a oportunidade mas é o seguinte: eu não tenho experiência alguma em roteiro para quadrinhos, não acho uma boa idéia, vamos aproveitar que tá tudo no começo e encerrar por aqui, você procura outro cara já com experiência e eu continuo escrevendo no blog.”

Poderia mas não o fiz.

O ator dentro de mim jamais deixaria de aceitar tal desafio.

luis-melo1

Luiz Melo como Macbeth em Trono de sangue, direção de Antunes Filho. Ensaio fotográfico de Emidio Luisi

Mas como diabos você adapta alguém que já foi encenado milhares de vezes, adaptado para todas as mídias existentes, estudado, dissecado e reinventado?

Srbek nesse caso me fez um enorme favor ao revelar que a linha editorial da coleção se pautaria pela fidelidade aos textos originais, sendo permitida apenas a adaptação da linguagem aos nossos tempos, obedecendo – claro – as limitações e liberdades narrativas próprias dos quadrinhos.

Adaptar uma obra clássica para uma outra mídia que não a sua original não é uma tarefa fácil. Cuidados devem ser tomados para tornar a história inteligível sem descaracterizá-la.

Pegar um texto de teatro e encená-lo é um processo natural, mas transformá-lo numa história em quadrinhos é, para se dizer o mínimo, ousado. Fazer isso com Shakespeare é simplesmente uma tarefa insana.

Por mais influência que o bardo inglês exerça sobre as mais diversas formas de entretenimento, o que eu faria ali seria transpor uma história imortal para um gibi que seria lido por uma imensa maioria que nunca teve contato com o texto original.

Em outras palavras, eu, o Wanderson, o Wellington e a Nemo seríamos os responsáveis por apresentar um texto original de Shakespeare pra uma galera que talvez nunca tenha ouvido falar no nome do bardo.

É claro que paranóico do jeito que sou, quase enlouqueci. Não com os prazos, esses geraram o estresse normal que geralmente compromissos com data marcada geram e foram cumpridos à risca, tampouco com o processo de aprovação do roteiro – e em relação a isso fica aqui meu agradecimento pessoal ao Wellington, que pacientemente sugeriu pequenas alterações e adaptações de ordem narrativa que, confesso, só aumentaram a qualidade do álbum – o que, aliás, é o trabalho de um editor.

O que pegou mesmo foi o peso da responsabilidade em – numa única tacada – interpretar todos os personagens de uma peça de Shakespeare!

Mas não vou contar agora a doideira que foi adaptar Shakespeare. Guardarei isso para a época do lançamento, já que é a única coisa que posso fazer, visto que seria muito deselegante (e pretensioso) resenhar o próprio gibi…

E quanto mais perto chega da data do lançamento (que ocorrerá em Belo Horizonte, no FIQ, à partir de 09/11) mais penso na aventura e loucura que foram aquelas semanas iniciais.

Nos vemos então no FIQ!

Se estou com medo?

Caras, eu estou apavorado…

letras-novo

6 comentários:

  1. Então a culpa é do Wellington Srbek por "colocar o pé na sua cabeça e te afundar de vez"?

    Que bom!

    Algo me diz que o Srbek descobriu um grande roteirista... e eu não vejo a hora de descobrir novas formas de sonhos...

    Parabéns irmãozinho....

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  2. Bom, já que andam me acusando de barbaridades aqui neste blog, em minha defesa venho dizer que é isso mesmo: eu estava certo e o Lillo provou ser um roteirista tão bom quanto eu podia imaginar! E com os desenhos e cores do Wanderson, "Sonho de uma noite de verão" é um daqueles gi... opa! É um daqueles QUADRINHOS que a gente compra na hora em que bate o olho! Está ficando fantástico e vocês não perdem por esperar!

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  3. Parabéns aos três envolvidos no processo da adaptação Shakespeariana. Lilo,malabarismo perfeito com as palavras.Wanderson, arte espetacular. Srbek,visão que um editor tem que ter.

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  4. Bom Wellington, isso faz de você um editor foda... e eu um amigo orgulhoso!

    Que chegue novembro, não vejo a hora de ter no FIQ, o meu exemplar em mãos...

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  5. Gostei da primeira página. Vai colocar as outras também? Quero terminar de ler ! =)

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  6. Parabéns, Lillo, Wanderson e Wellington. Vou buscar o meu sonho de verão lá em BH. Nos vemos lá.

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