terça-feira, 6 de julho de 2010

Para aprender mais: Quadrinhos Dourados – A História dos Suplementos no Brasil

Tem dias que essa vida de bancário é um saco. Não chegam aser tantos a ponto de tornar o emprego insuportável, mas está muito acima dodesejável.

Minha política sempre foi: não leve o trabalho para casa.
Então, nesses dias, uso uma velha técnica aprendida numemprego muito pior, lá nos idos de 90: saio andando sem rumo.

Sim meus amigos, andar me relaxa e eu chego em casa zerado.Esqueço de praticamente tudo o que aconteceu durante o dia.

Minha esposa sempre agradeceu essa minha capacidade, mantéma sanidade do relacionamento.
Mas tem um efeito colateral: sempre que eu ando, uma hora euparo.

E quando paro geralmente tem gibi envolvido.

Foi numadessas andanças, depois de um dia pior que vinho ruim, que parei para bater umpapo com o Sr. Manoel, dono da LivrariaTemos Livros.

A Temos Livros fica ali na Avenida SãoJoão, no número 526, e é um daqueles lugares inacreditáveis de São Paulo. Seudono, português de seus 60 anos, de humor ferino e inteligência ímpar, é um fãde quadrinhos e sempre oferece, gratuitamente, horas de boa conversa e risosincessantes. Também pudera, ele foi um dos sócios da Muito Prazer, naquela mesma Avenida São João, nos anos 80.
Para quemnão conheceu a Muito Prazer possoapenas dizer que era o melhor lugar do Universo. Ali você encontravapraticamente qualquer gibi publicado no século XX neste lado do Hemisfério Sul.

E enquantovou conversando, vou fuçando. Meio despretensioso, pego uma coisa, folheio,pego outra, converso, fico ensebando com algum livro na mão, dou risada, equando vejo já gastei pelo menos 50 contos (essa parte minha esposa não sabe).

Quando dei por mim já estava no metrô, a caminho de casa, lendo QuadrinhosDourados – A História dos Suplementos no Brasil (Ópera Gráfica Editora,2003), do Professor Diamantino da Silva, autor do clássico Quadrinhos para Quadrados.

Esse é umdaqueles livros teóricos deliciosos. Escrito em 1ª pessoa, é muito mais umlivro de memórias. Só que são as memórias de um moleque lá de Santos, quecoincidiu sua infância com a infância da indústria de quadrinhos nacional. Emespecial com o surgimento dos Suplementos Infantis no Brasil.

O tompessoal da narrativa e suas insuspeitas predileções juvenis, aliadas à suavasta experiência profissional no ramo, tornam o livro não apenas um apanhado dememórias sobre aquelas publicações, mas um guia altamente recomendável parapesquisadores, estudantes e fãs do gênero. Embora seja um livro relativamentecurto, suas 95 páginas nos dão uma precisa noção da fase áurea daqueles precursores dosatuais gibis.

Com umavasta lista de autores, editores e profissionais, podemos acompanhar a trajetóriadaquelas publicações desde a edição inaugural do Suplemento Juvenil em 1934, por iniciativa de Adolfo Aizen, até aderradeira edição de O Globo Juvenil,de Roberto Marinho, em 1950, além de curiosas revelações sobre os bastidores domeio editorial da época.

Possui atéum guia de seriados cinematográficos (exibidos nas famosas matinês) com os inesquecíveis Dick Tracy, Mandrake, Jim das Selvase até Terry e os Piratas. É claro que se tratam de seriados produzidos nas décadasde 30 e 40, com roteiros deliciosamente absurdos, que faziam as crianças perderem o fôlego no final e aguardarem ansiosamente pelo próximo capítulo.

Enfim, um ótimolivro escrito por alguém que entende do assunto. Feito sob medida para quem quer conhecer o tipode gibis que nossos pais e avós liam quando crianças.

2 comentários:

  1. É engraçado.
    Este "absurdo" dos roteiros produzidos nos anos 30 e 40 é que fazem falta no cinema de hoje (transferindo dos quadrinhos para o cinema...), pois eram BEM DEFINIDOS os papéis de vilão e mocinho. O certo e o errado. Embora os não politicamente corretos heróis, eram concebidos com forte personalidade, a qual você se identificava.
    Então, percebemos porque filmes como Indiana Jones nos faz rir feito crianças, mesmo o ator tendo uma idade de "jovem a mais tempo".

    Voltando aos quadrinhos, vou ter que conhecer esta livraria. A originalidade de "temos livros" e "muito prazer", também não é visto nos dias de hoje...

    ResponderExcluir
  2. Grande Marcio!
    Acho que você tem total razão. Aqueles absurdos roteiros tinham um sabor mágico, que ainda perdurou por um bom tempo nos filmes de aventura. Hoje, por mais interessantes que sejam os filmes atuais, a indústria se baseia de "quanto mais fantástico o efeito, melhor o filme" e pouco se importam com a história em si. Daí o 4º Indiana Jones ser tão atraente quanto os 03 primeiros - feitos décadas antes. Ele respeita a história e nos traz de volta aquele clima de matinê (ou alguém duvida que um cara escapando de uma bomba atômica se escondendo dentro de uma geladeira não é pura matinê?).
    E voltando aos quadrinhos, a Muito Prazer nunca mais teremos, mas a Temos Livros está aí, como legítima herdeira, apesar de não ter tantos quadrinhos. Se um dia você for visitar seu irmão aqui em Sampa, obrigue-o a te levar até a Avenida São João. Conheça a livraria e seu dono. Daí, como quem não quer nada, faça algum comentário do tipo "É. Will Eisner é que manjava das coisas" ou "Não há nada melhor do que Dick Tracy". E aí, se prepare pra muita conversa.

    Um grande abraço camarada!

    ResponderExcluir