sábado, 19 de fevereiro de 2011

Revelações?

revelações1Por sugestão do amigo Lucas Pimenta, comprei o gibi Revelações, de Paul Jenkins e Humberto Ramos (2008 - Devir Livraria - R$ 42,00).

Antes que eu seja ameaçado de morte gostaria de dizer que o gibi é muito bom. Bem acima da média e – mesmo com um preço tão salgado – vale a pena o investimento.

Dito isto, vamos a história.

O Cardeal Richleau, primeiro na linha de sucessão papal, aparentemente se joga de sua janela e acaba empalado nas grades do páteo andares abaixo. Um escândalo sem precedentes no Vaticano. Um de seus amigos – o também cardeal Marcel Leclair – resolve descobrir a verdade e viaja até Londres para cooptar um velho amigo, o detetive Charlie Northern.

Charlie outrora teve muita fé. Infelizmente seu relacionamento com Deus acabou no exato momento em que seus pais foram trucidados por um esquizofrênico.

Chegando ao Vaticano nosso cético herói descobrirá que o aparente suicídio pode ser bem mais do que querem fazê-lo crer. Depoimentos desencontrados, evidências desaparecidas, a cena do crime alterada e uma grande pedra em seu sapato: o misterioso e dissimulado Cardeal Toscianni.

Como pano de fundo, um papa moribundo à frente de um Vaticano envolvido em acusações de corrupção.

Sem dúvida alguma ingredientes suficientes para uma boa história, ainda mais nas mãos do competente Paul Jenkins e do genial desenhista mexicano Humberto Ramos.

O problema é que Revelações não revela absolutamente nada de novo. Tinha tudo para ser um gibi memorável, mas não decola.

revelações2A culpa definitivamente não é dos autores. Jenkis amarrou bem sua história, com elementos de suspense que vão pouco a pouco sendo revelados. Suas personagens são interessantes e a tensão psicológica criada entre o detetive Northern e o Cardeal Toscianni é o ponto alto do gibi.

Mas a intencionalidade em se criar uma trama complexa cobrou seu preço. E ele não foi barato, mesmo sendo Jenkins um roteirista acima da média.

A relação entre o falecido Cardeal Richleau e o detetive Northern não é totalmente esclarecida e esse ponto, alardeado no começo da história com uma precisão narrativa incrível, incomoda pela falta de explicações.

A seita milenar a qual o Cardeal Toscianni pertence – e que tem papel prepoderante na trama – não diz a que veio e a impressão que fica é que foi colocada na história apenas como uma pista falsa. Pela importância narrativa que tem, uma pista falsa é muito pouco.

Outro exagero é a gratuidade do escândalo financeiro envolvendo o Vaticano. Nada traz de útil à história e seria facilmente dispensável.

O final quase conserta os erros. Digo quase porque perdeu-se tempo demais em um sem número de pontas soltas e amarrá-las todas em um único capítulo – num gibi que possui outros cinco – pareceu-me apressado demais.

Ainda assim, Reveleções é um gibi muito melhor do que a maioria das coisas que vem sendo publicadas no mercado norte americano. Vale os quarenta contos que cobra? Vale, sem dúvida. Ainda mais porque a história – repito – é bem amarrada e equilibra bons momentos de ação com tensão psicológica.

E tem a majestosa arte de Humberto Ramos, o que, por si só, já vale cada real. Se for numa promoção então, não pense duas vezes.

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5 comentários:

  1. Também escrevi sobre essa HQ no Mais Quadrinhos, mas acho que o máximo que consegui dizer é que é um negócio oportunista.
    Para mim, é o tipo de lançamento que não faz a menor diferença para o mercado.

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  2. Olá Wellington!

    Você deve ter percebido que essa resenha não despertou aquela paixão costumeira e esse é um dos motivos. Realmente achei o gibi muito acima da média (ainda que a média esteja pra lá de baixa). Não diria que é oportunista, mas pretensioso. Algo do tipo querer ser o "Código Da Vinci dos quadrinhos". Ainda acho que vale a pena comprar (principalmente numa promoção), mas fiz questão de apontar os problemas narrativos.
    Jenkins já fez melhor...

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  3. Não sei, para mim é muito: "ah, vamos lançar um quadrinho para pegar carona na onda do Código Da Vinci".
    Também não consigo deixar de pensar que, ao publicarem trabalhos descartáveis como este, as editoras deixam de lançar quadrinhos mais interessantes e especialmente trabalhos nacionais.

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  4. Meu amigo, nisso você está coberto de razão e fala com propriedade. Tratamento muito bem acabado, papel de alta qualidade, publicidade adequada, distribuição abrangente... E tudo para quê exatamente? O investimento de publicações desse nível daria para publicar uns 03 projetos nacionais na boa. Vale como entretenimento - que é o que o gibi é - mas que é totalmente descartável quando pensamos na imensa escassez que temos de investimentos apropriados nos quadrinhos nacionais.

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  5. Concordo com os feras Lillo e Wellington, quanto ao morno desempenho do quadrinho, mas oque chama mais atenção na venda deste tipo de trabalho são os nomes dos criadores, o genial Jenkis e o talentoso Ramos. Infelizmente as sifras falam mais alto já que ambos criadores tem um público já estabelecido. Daí as vendas sobem.

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